Relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas das Nações Unidas) apontam para uma variedade de cenários possíveis de mudança climática global caso os níveis de emissão de gases geradores do efeito estufa mantenham os atuais ritmos. Esta rede de cientistas, atores políticos e ambientalistas, alerta para a possibilidade de escassez generalizada de recursos hídricos, de diminuição do rendimento agrícola e da produção de alimentos, de colapso do sistema amazônico, de extinção definitiva das florestas tropicais, de derretimento das grandes geleiras, de crise da biodiversidade, de aumento das temperaturas, de proliferação de eventos climáticos extremos e, consequentemente, de transformação de considerável contingente humano em refugiados ambientais.

Por que não fazemos absolutamente nada? Uma das explicações acerca da ausência de ações concretas dos indivíduos em relação à crise ambiental é justamente o Paradoxo de Giddens, o qual postula que por uma série de fatores explicativos característicos de sociedades pós-tradicionais as ações políticas e cotidianas só serão levadas a cabo quando não houver mais possibilidade de influência antropogênica relevante nos eventos de mudança climática.

A perspectiva da investigação procura analisar criticamente essa categoria explicativa através da percepção que as próprias concepções de natureza, meio ambiente e preservação ambiental são construções sociais situadas localmente e originárias de lutas classificatórias e de distinção social desempenhadas por agentes localizados em contextos específicos.

A existência ou não de um ethos ambiental, a preocupação com a crise dos ecossistemas, a ausência de ação prática em relação aos debates de mudança climática, devem ser vinculadas às dinâmicas territoriais, aos arranjos políticos, econômicos e sociais de localidades determinadas, a processos de diferenciação entre classes, a todo um complexo interacional de construção de identidades situadas.